segunda-feira, 23 de outubro de 2017

DOS DIAS IDOS

DOS DIAS IDOS

Enquanto o sol se põe entre edifícios
E tudo pouco a pouco fica escuro,
Nas sombras que se alongam eu procuro
Dos dias idos válidos resquícios.

Deixo as luzes cambiantes dos inícios
Aos olhos apressados do futuro...
E estabeleço, ainda que inseguro,
Poéticas novas d'artes e artifícios.

Aquele escrever meu antigo e estranho
Fora-se co'as fumaças vãs d'antanho
Junto com inquietudes desmedidas.

Mas olho o sol se pôr -- qual fazia antes --
A ver cá das alturas dos mirantes
Os versos que escrevi em minhas vidas.

Belo Horizonte - 19 10 2017

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

FEMINICÍDIO

FEMINICÍDIO

O corno do meu ex quem me matou...
Foi me sangrando as carnes feito presa.
Seu gesto fora de ódio, não tristeza
Pelo amor que era pouco e se acabou.

Depois que tudo aquilo se passou,
Fugiu d'ali correndo na certeza
Que s'eu de suas mãos saísse ilesa
Ele não seria o homem que pensou.

Em face da barbárie consumada,
O povo só se admira; não faz nada,
Senão me ver culpada por ser morta:

Figuro como crime passional,
Estampado na capa d'um jornal,
Que mais uma estatística reporta.

Betim - 11 10 2017

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

CHEIRO DE CHUVA

CHEIRO DE CHUVA

É no vento que a chuva vem primeiro...
Chega n'um cheiro cheio de sul e mar
Que roça as altas serras, sem parar,
E eleva em redemunho o chão mineiro.

Avanguarda das nuvens, esse cheiro
Súbito faz a noite refrescar
Em húmidas lufadas de bom ar,
Que boa prosa traz para o terreiro.

De vera, a gente sai sob relento
Apenas para já sentir no vento
A chuva qu'inda tão distante molha.

E espera, n'uma fé agradecida,
Pela estação das chuvas ver mais vida
Enfim reverdecer em cada folha.

Betim - 09 10 2017