segunda-feira, 16 de abril de 2018

AURA EXTENSA (sextilhas)

AURA EXTENSA (sextilhas)

Estender-se no que se tem
Faz um homem maior do que é --
Quer lança que estica além
O braço e mais longe até; 
Ou alavanca que, com fé,
Movesse o mundo também.

Assim, n'aquilo que se usa
Todo ser s'estende todo:
É cheiro que impregna a blusa;
É calor em pleno denodo
A arder em torno, de modo
Que a aura nas armas inclusa!

Como se a pessoal energia
Em vibrações oscilantes
S'expandisse, todavia,
Pelas coisas circunstantes
Para além do que eram antes
Pois pessoais em demasia.

Visto demasiado humanas
As coisas depois de usadas:
Se a princípio mundanas,
Pelo corpo desgastadas
São enfim humanizadas
À luz d'auras soberanas.

É chamado de "aura extensa"
Este estender-se do ser
Nas coisas a que dispensa
Um extremado prazer
Ou as agruras do afazer
Por sobre a matéria densa.

O imaterial na matéria
Como restos da existência,
Sua opulência e miséria
Confessa na permanência
Uma presença na ausência
Durante a ação deletéria.

E a vida que ali resiste
Depois que a vida se deixa
É a memória que insiste,
Indiferente da queixa
Que em meio às flores enfeixa
Lamúrias d'um luto triste.

É a verdade da vida
Que se nega ao vão d'Olvido!
É, talvez, a despedida
N'um detalhe percebido
Pelo coração partido
Diante de sua partida.

É a luz que permanece
Depois que o sol já se pôs.
E, pouco a pouco, anoitece
Nos versos que se compôs
Quando -- filhos, pais, avôs... --
O homem dos homens esquece.

É, enfim, tudo que se haura
Expresso em luz e revolta,
Enquanto a mente desaura
N'um clarão à sua volta
O ser que de si se solta 
Quão extensa for sua aura...

Betim - 16 04 2018

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