quinta-feira, 5 de abril de 2018

POR ENGANO

POR ENGANO

Cumprimentou-me sem saber quem era.
Acenava, sorrindo-me sem graça.
Há tempos não o via e n'uma praça
Calhou de reencontrá-lo: -- "Besta-fera!..."

Com efeito, das brumas da quimera
Retorno balbuciando uma chalaça.
E, antes que da surpresa se refaça,
Pede-me um adjutório e fica à espera.

Recordo-me do amigo qu'ele fora
No tempo qu'eu o tinha como amigo
E da distância havida vida afora.

"Mas que cara de pau!" -- pensei comigo --
"Nem se lembra de mim". Digo-lhe, embora:
-- "Perdão, foi por engano." -- e fui embora.

Belo Horizonte - 25 03 2018

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